Cidades inclusivas, seguras, resilientes e sustentáveis: o que as Ciências Sociais têm a dizer?


Nas cidades vivem hoje cerca de 55% da população mundial (conforme dados da ONU para 2019, que aponta para um crescimento para os 70% até 2050). Esta configuração mundial atual é resultante das ações da razão e da ilimitada vontade humana, fundadas e legitimadas pelo antropocentrismo cartesiano e seus impulsos de concentração e mercadorização da vida. Este paradigma, marco da Modernidade, tem-nos encaminhado ao esgotamento dos recursos naturais, bem como dos recursos sociais para a vida em coletividade, expresso nas crises contemporâneas – climáticas, econômicas, sanitárias e urbanas. Fenômenos como a violência urbana armada e simbólica, a gentrificação e a expulsão de populações de áreas urbanas, as epidemias, os incêndios, as cheias e as secas descontroladas apontam para um esgarçamento do modelo de cidade e para a necessidade de repensá-lo.

No sentido de melhor compreender os fenômenos característicos da cidade contemporânea, e tendo como inspiração a Agenda 2030 da ONU, a pesquisa de título “Cidades inclusivas, seguras, resilientes e sustentáveis: o que as ciências sociais têm a dizer?” foi concebida pela professora Giuseppa Spenillo e tem sido desenvolvida em conjunto com o grupo de pesquisa Comunicação, Mudanças Sociais e Direitos (COMUDI) desde meados de 2020.

A Organização das Nações Unidas, elaborou, em 2015, a Agenda 2030, um “plano de ação para as pessoas, para o planeta e para a prosperidade”. Este plano de ação, constituído por 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e 169 metas, visa guiar ações globais para erradicar a pobreza, preservar o planeta e garantir a prosperidade para todos. Os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável estão interligados e abrangem questões como a saúde, a educação, a igualdade de gênero, água limpa e saneamento, energia limpa, trabalho decente e crescimento econômico, redução das desigualdades, entre muitas outras. 


Sabendo que é nas cidades que se concentra a maior parte da população atualmente, acreditamos que dentro dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável existe um convite a abordar de frente e de modo proativo a questão das cidades, com o intuito de torná-las “inclusivas, seguras, resilientes e sustentáveis”, como postula o 11º ODS, que tem como título "Cidades e Comunidades Sustentáveis" e como missão oficial "tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis". Temos, portanto, que a inclusão, a segurança, a resiliência e a sustentabilidade das e nas cidades são as temáticas que nos mobilizam para este estudo acerca da cidade contemporânea. 

Neste projeto de pesquisa, focamos o trabalho investigativo nas teorias sociológicas, antropológicas e políticas que apoiam a compreensão de cidade contemporânea, para retirarmos delas as pistas teóricas que poderão nos apontar os caminhos para pensar a mudança necessária, bem como para fundamentar novas investigações, de cunho empírico, que venham a revelar as realidades em que vivem as cidades hoje. Procuramos responder, assim, a uma sentida necessidade de se estabelecer uma viva relação entre teoria e prática, ao desvendar o acervo teórico-conceptual das Ciências Sociais e Humanas à disposição das questões atuais sobre a cidade. 

Por fim, em nossa pesquisa, pretendemos elaborar arcabouços teóricos, com o intuito de produzir materiais que sirvam de referência para investigações futuras e abram novas possibilidades para a compreensão das cidades contemporâneas e suas demandas e potenciais para a superação das crises atuais.

Por Paola Calonio. 


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