Cidades e comunidades sustentáveis - uma primeira aproximação


Como abordamos no post anterior, intitulado “Cidades inclusivas, seguras, resilientes e sustentáveis: o que as ciências sociais têm a dizer? - uma breve introdução ao projeto”, a Organização das Nações Unidas criou, em 2015, a Agenda 2030, que, dotada de 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável para o planeta, visa guiar ações para acabar com a pobreza, proteger o planeta e garantir a prosperidade para todos.

Esses Objetivos de Desenvolvimento Sustentável têm como base os progressos e as lições aprendidas com os 8 Objetivos do Milênio, estabelecidos entre 2000 e 2015, e são fruto de um trabalho conjunto de governos e de cidadãos de diversos países. Com o objetivo de erradicar a pobreza, preservar o meio ambiente e o clima e garantir um futuro mais justo para todos, esses objetivos são um bom ponto de partida para refletirmos acerca da construção de um mundo mais sustentável e justo, sobretudo a partir das cidades, espaços onde vive a maior parte da população global atualmente, e epicentros das mudanças e ambivalências trazidas pela modernidade.

O deslocamento da população das áreas rurais para as zonas urbanas é um fenômeno global que só tende a crescer nas próximas décadas. Em 2015, quase 4 bilhões de pessoas - 54% da população mundial - vivia em cidades.  A ONU afirma que, em 2030, aproximadamente 60% da população mundial viverá em áreas urbanas. Para 2050, a previsão é de que cerca de dois terços da população mundial viva em cidades.

Nesse sentido, com o crescente aumento da urbanização e da própria população mundial, é cada vez mais importante que as cidades sejam espaços planejados e gerenciados de forma mais integrada e sustentável, a fim de garantir uma maior qualidade de vida aos seus habitantes, a preservação do meio ambiente e, em última análise, um futuro mais justo e equilibrado para todos: pessoas e natureza. O futuro está, portanto, nas cidades.

Se por um lado as cidades são espaços de diversidade de ideias e pessoas, de comércio, de cultura, de ciência e de produtividade, concentrando 70% do PIB global em apenas 2% da superfície terrestre; por outro lado, as altas taxas de densidade demográfica e o crescimento desordenado acarretam inúmeros problemas para a vida citadina, como aqueles relacionados ao transporte, à poluição, à habitação, aos resíduos e à segregação.


As cidades têm grande impacto ambiental, sendo responsáveis por mais de 60% do consumo de energia, provocando 75% das emissões de carbono e produzindo 70% dos resíduos mundiais, aproximadamente. Uma gestão deficiente dos resíduos sólidos aumenta, por exemplo, o risco de inundações e das doenças causadas pela contaminação da água. Em 2013, apenas 65% da população urbana de 101 países contava com um serviço municipal de coleta de lixo.

A poluição do ar também provoca doenças, sendo responsável por milhões de mortes prematuras todos os anos. Em 2014, nove entre dez pessoas nas cidades respiravam ar acima do nível de poluição aceitável pela Organização Mundial da Saúde. Grande parte da poluição vem dos meios de transporte, que também são responsáveis por ¼ das emissões globais do efeito estufa. Sabemos que, para que o transporte urbano permita o transporte da população até os locais que desejem de forma sustentável, faz-se necessária uma mudança profunda em todo o sistema de transporte.

Podemos começar a pensar o conceito de cidade sustentável partindo do princípio de que ele envolve diversas áreas, desde o planejamento urbano até a gestão de resíduos sólidos. Algumas das práticas a serem consideradas e adotadas pelas cidades sustentáveis devem incluir, por exemplo, a promoção do transporte público acessível e eficiente, a utilização de fontes de energia renovável, a preservação de áreas verdes, a implementação de políticas públicas que incentivem a economia circular, a redução do consumo de recursos naturais, a gestão adequada dos resíduos, a preservação do patrimônio cultural e a inclusão social.

Assim, neste primeiro momento, podemos afirmar que cidades sustentáveis são aquelas que buscam um equilíbrio entre o desenvolvimento econômico, social e ambiental, garantindo não apenas a qualidade de vida das gerações presentes como também das gerações futuras.

Além disso, as cidades sustentáveis devem buscar a participação ativa da população em todas as etapas do processo, desde o planejamento até a implementação das políticas públicas. Isso é fundamental para garantir que as necessidades e demandas da população sejam atendidas de forma eficiente e democrática. As cidades sustentáveis têm um impacto positivo no meio ambiente. A redução do consumo de recursos naturais e a adoção de práticas de reciclagem e compostagem ajudam a diminuir a quantidade de resíduos gerados e a poluição do ar e da água. Além disso, a criação de áreas verdes e a preservação de ecossistemas naturais contribuem para a biodiversidade e a qualidade de vida dos habitantes.

As cidades sustentáveis também trazem benefícios sociais para seus habitantes. A promoção da mobilidade sustentável, como o incentivo ao uso de bicicletas e transporte público, pode melhorar a qualidade do ar e reduzir o congestionamento das ruas, tornando a cidade mais agradável para os moradores. Além disso, a criação de espaços públicos de convivência, como praças e parques, pode aumentar a interação social e a sensação de comunidade entre os habitantes da cidade. 

Por Paola Calonio.

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